desabafo

A geração sem tempo

Somos o mundo do fast food. De jantar em frente ao computador. De inscrever-se no ginásio em Janeiro e de deixar de ir em Fevereiro. Somos o mundo dos queixinhas. Dos pouco realizados. Dos sindicalistas medrosos. Daqueles que começam a correr, compram roupa, tenis y fones de ouvido, tiram 5 fotos para o instagram e depois vem a chuva e acabou-se. Somos dos que começam a dieta "amanhã sem falta", dos que chegam a casa e uma vez por ano anunciam que vão deixar o trabalho e viajar pelo mundo. Nunca o fazemos. Somos escravos do salário ao fim do mês. Covardes. Uma geração de incompreendidos. Somos do tempo dos que começam o jornal ao contrario, dos que leem os livros de diálogo em diálogo, saltando as descrições. Aprendemos skimming e scanning só para não perder tanto tempo. Estudamos línguas e depois esquecemo-las. Não cumprimos compromissos. Não sabemos batalhar. Nunca temos tempo.
Fomos enganados. Nunca nos disseram que a vida era uma batalha constante entre o relógio, as ambições e os fracassos.

frio

Quando sai o sol


Neste país onde eu moro (e que ninguém ache que a Galiza e algo menos que um país), faz mau tempo. Pronto. Temos de assumir a realidade. No inverno passado choveu durante 43 dias seguidos. E no verão fui à praia 3 vezes (e eu moro em frente). Portanto isto é inevitável. Já vivo aqui há 6 anos (!!!) e cada vez mais acontece-me isto:

Planos para o domingo: pequeno almoço com sumo de laranja, ir ao ginásio, almocinho gostoso, escrever 2 artigos atrasados para o jornal, mandar alguns emails, ver True Detective e preparar um documento para uma apresentação desta semana. 
O que aconteceu na realidade: abri um olho, pareceu que estava sol, não acreditei e continuei a dormir. Ele levanta-se abre a janela. Voltei a abrir o olho: ¿Hace sol?. “Síiiiii!”. Então levanta da cama já em manga curta, bicicleta, ginásio, ler o jornal na esplanada, voltar, pôr música, abrir as janelas, sair outra vez, levar a cámara, comentar “quanta gente na rua!” (tu incluida), tirar dezenas de fotos, aproveitar o contraluz, ficar até ao pôr do sol, voltar de noite e aperceber-se que não fizemos nada do que tínhamos pensado para este domingo. 

Mas viver na Galiza é isto: quando sai o sal, deixamos tudo e vamos passar o dia com ele. Porque ninguém sabe quando ele voltará a visitar-nos.

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