autocarro

E tu? Quantas horas dormes?

De segunda a quinta-feira passo fora do trabalho 10 horas por dia (8 delas a dormir). A conta é fácil. De segunda a quinta-feira passo duas horas por dia em casa acordada. Duas. Horas. Nessas duas horas diárias tomo o pequeno-almoço, faço exercício, leio as noticias, tomo banho e, às vezes, dá tempo para ter dois dedos de conversa. 
De segunda a quinta a minha casa é o trabalho. Mas eu recuso-me. Nunca chamarei a empresa de "casa". Não tenho decoração na minha mesa, nem um armário tipo despensa. Atuo como se cada dia fosse só esse dia. "Oh não, hoje vou trabalhar 13 horas". Penso, em casa jornada, como se fosse uma coisa excecional.
É a minha forma de lidar com O problema. Assim, com O maiúsculo. O senhor do do autocarro perguntou-me outro dia quantas horas costumava dormir. Pergunta indiscreta, pensei, e ele completou a frase: "É que ontem vi-te na televisão e já passava da meia-noite. E agora (11 da manha) já estas a ir para o trabalho... ¿Quantas horas dormes?". Respondi-lhe que preferia não contar horas mas (sempre tento jogar essa carta) que à sexta-feira não trabalhava: "Ah, menina, mas acho que isso não compensa", respondeu.
E eu calei-me.



desabafo

A geração sem tempo

Somos o mundo do fast food. De jantar em frente ao computador. De inscrever-se no ginásio em Janeiro e de deixar de ir em Fevereiro. Somos o mundo dos queixinhas. Dos pouco realizados. Dos sindicalistas medrosos. Daqueles que começam a correr, compram roupa, tenis y fones de ouvido, tiram 5 fotos para o instagram e depois vem a chuva e acabou-se. Somos dos que começam a dieta "amanhã sem falta", dos que chegam a casa e uma vez por ano anunciam que vão deixar o trabalho e viajar pelo mundo. Nunca o fazemos. Somos escravos do salário ao fim do mês. Covardes. Uma geração de incompreendidos. Somos do tempo dos que começam o jornal ao contrario, dos que leem os livros de diálogo em diálogo, saltando as descrições. Aprendemos skimming e scanning só para não perder tanto tempo. Estudamos línguas e depois esquecemo-las. Não cumprimos compromissos. Não sabemos batalhar. Nunca temos tempo.
Fomos enganados. Nunca nos disseram que a vida era uma batalha constante entre o relógio, as ambições e os fracassos.

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