Espiral negra

Um dia não vais ao ginásio e no seguinte pensas: "Se já não fui ontem...".
Aí começa a espiral. Hoje não porque estou cansada. Amanhã, pequeno almoço com as amigas, no próximo, supermercado e sexta-feira-é-dia-de-descansar. De que vale ir no sábado se já sei que no domingo não vou? E a segunda de manhã toda a gente sabe que ainda conta como fim de semana.
Para mim esta é a metáfora da vida. Porque lutar contra essa espiral tentadora é, basicamente, viver.


Um livro

- Para que é que serve um livro, Gonçalo M Tavares?
- Para alterar a velocidade normal.

In Pessoal e Transmisivel 

ganhar e perder


En jornalismo falamos muito disso. De ganhar e de perder. Ganhamos um leitor com um bom lead e perdemos quando fazemos frases impossíveis.
Ganham-se aliados e perdem-se fontes.
Às vezes só com um erro ortográfico, uma gralha, um adjectivo (esses inimigos). É um jogo de vida ou morte. Uma palavra simpatica e fidelizamos, uma boa reportagem e reservamos um lugar na caixinha dos recortes, na pasta do computador, no arquivo do MP3. Um plano errado e não voltam a carregar no botão do nosso canal.
Em espanhol há uma expressão. Las cosas se te cruzan. De repende, um dia, alguém te diz alguma coisa, faz um gesto, um olhar, um comentario... e “se te cruza”. Perdeste-a. Ou ela perdeu-te.
Cada vez sou mais assim, pessoa de instinto. Cada vez vejo mais a vida como um lead. Um jogo de ganhar ou perder. Uma batalha de palavras e gestos sedutores. 
“Aquí perdeste-me”, diziam-me os chefes quando corrigiam os meus textos.
E eu pensava: tem de haver mais do que isso. 

Ouvido na aula de italiano

"Domani finiremo con il futuro"
E assim uma aula de gramática virou uma dissertação sobre a vida.

Emigrante

Beber laranja

Foi assim, com um anúncio de 1916, que as pessoas começaram a "beber laranja" no Ocidente.


Eu honro este anúncio todas as manhãs.

Via Brief do Lombo

(mentira)

Os políticos dizem mentiras e nós mentimos quando falamos dos políticos. Os economistas mentem quando dizem que sabem o que fazem e nós mentimos quando acreditamos neles. Então os chefes de governo mentem quando anunciam que as suas medidas vão "acabar com os problemas do país", e nós mentimos com o nosso voto de confiança. Depois mentimos, o omitimos, e dizemos que o voto é secreto. 
Voltamos a mentir quando acusamos os outros de corruptos, mas todos já pedimos "faça -me o preço sem factura". 
Eles mentem quando dizem que são "reformas" e não "recortes" e nós chamamos isso de eufemismos: o que é uma mentira. Mentimos quando dizemos que "fazemos jornalismo" e mentimos quando estamos a informar. E quando nos perguntam por quê, sempre temos uma boa razão (mentira). 
E então perguntamo-nos ¿Como seria o mundo sem mentiras?
Pergunta mentirosa.
Ninguém quer saber essa resposta. 

O neón

Hoje terminámos assim, como um grupo de desconhecidos admirando uma placa feita de neón.


 

What has happened to our conviction.... you know?

Pessoas

Sempre esperamos.
Às vezes, um telefoma. Olhamos para o telemóvel. Bloqueia, desbloqueia, não, não me ligues que não posso ter o telefone ocupado. Outras vezes, é um email. F5, F5, F5. Uma notícia no jornal ou uma resposta a uma mensagem.
Estranhamente, o que eu nunca espero são pessoas: estão sempre demasiado ocupadas.

Colchão da felicidade

Desde que comecei a trabalhar estabeleci um objetivo principal e prioritário para o meu dinheiro. Conseguir juntar as poupanças necessárias para viver durante um ano sem trabalhar.
E dizem vocês, "que menina precavida, pensando no futuro e organizando-se para não passar dificuldades".
Não.
Esta menina é precavida, mas a sua poupança é, na verdade, uma das suas maiores excentricidades.
O conceito é o seguinte:
Trabalhar sucks. Trabalhar por obrigação sucks even more.
E é aí que entra o meu "colchão da felicidade".
Acordar um dia e pensar "não quero ir trabalhar, não quero, não quero", "não gosto do meu trabalho, 'tou farta de tudo isto". E então, no meio desta espiral negra que costuma invadir-me entre o despertador e o banho, há um grilo feliz que me sussurra: "Se não quiseres ir trabalhar não precisas, pedes a conta e durante um ano podes fazer o que te apetecer".
E, de repente, um sorriso e um suspiro: "'Ta bem va,  hoje vou trabalhar, mas quem sabe amanhã...."
Assim passam os dias e aguenta-se melhor a rotina, com um grilinho da consciência que depois de cada discussão com o chefe ou problemas com o directo, te sussurra: "se quiseres...."
Chamem-lhe tortura psicológica ou desperdicio de dinheiro, eu não me importo.
Já sei que talvez eu nunca o faça, deixar tudo e mudar de vida, mas saber que essa possibilidade existe é o meu colchão da felicidade.



Cilantro

Na nossa casa cresce um Cilantro. Agora precisamos de uma receita para usa-lo.


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