Khadafi vs. ETA

23.10.11

Já morreu?
Essas foram as primeira palavra que pronunciei ao chegar à redacção meio despenteada, meio acordada, meio a correr. Tinha lido as noticias em casa. Pus uma roupa qualquer, fiz duas chamadas e arranquei o carro. O programa pensado naquela manhã já não valia. As noticias ainda eram difusas e precisávamos de um plano B. Ainda era cedo, ainda dava tempo, ainda não havia problema. Até porque ele ainda não tinha morrido (oficialmente).
E então veio a confirmação e depois chegaram os vídeos. Uma reunião para corrigir os reajustes e parecia que tudo estava em ordem.
Até que começaram os rumores.
"Pode ser que a ETA (grupo terrorista espanhol que matou mais de 500 pessoas ao longo de 40 anos) se dissolva hoje".
Rumores, só rumores. Até que de repente, um alerta no twitter, um telefone que toca. Um grito. Dois, três. Não podia ser verdade, mas era verdade. Eu estava a viver o acontecimento noticioso mais esperado das últimas décadas. Qual Khadafi, qual quê. Eu ia dar aquela noticia que todo o jornalista sempre sonhou em dar. Aquilo estava mesmo a acontecer. ETA estava mesmo a anunciar o final da violência. E, pior, eram 7 da tarde.
Reunião do comité de crise e nunca aquela redacção trabalhou tão rápido. Enquanto gritávamos "isto não pode estar a acontecer, não acredito que estou a viver isto", trabalhávamos como nunca tínhamos trabalhado. Ninguém se foi e houve gente que até voltou. "Vi a noticia e vim a correr, não podia ficar em casa num dia como hoje".
Hoje era O dia.
E de repente já estávamos em directo. Tivemos comentários, opiniões especializadas e declarações políticas por satélite. Tivemos adrenalina e muita audiência. Um plano do dia que se foi por água abaixo. E duas noticias. Duas noticias demasiado importantes para passar no mesmo dia. E o melhor de tudo, foi que fomos capazes de analisar em profundidade as duas.
Quando tudo acabou e cheguei a casa não podia dormir. Só pensava, "nunca mais vou esquecer este dia".

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