A geração da crise

29.6.11

Outro dia, pensando sobre o tema, concluí que não tenho memória de viver num país sem crise. Desde que tenho uso da razão (leia-se 18 anos) que ouço dizer que o pais está mal, que a "conjuntura", o "deficit" e a "dívida pública" são parte constante do meu dia-a-dia. Sou da geração da crise. A geração que quando disse aos professores que ia ser jornalista, olharam-nos com cara de "coitadinha". Sou da geração que quando foi praxada na faculdade, diziam-nos que íamos acabar todos como "caixas do Modelo". Sou da geração que não tem medo aos mercados, à bolsa, ao risco da dívida e à estanflação. Convivo com eles em paz, são quase amigos de infância.
E cada vez mais, penso, como jornalista, como seria o mundo sem crise, sem a debilidade do euro, os ajustes fiscais e o buraco negro da saúde pública. Como seria trabalhar sem recortes, sem despedimentos, sem greves e sem instabilidade? Os jornais contariam boas noticias, os discursos presidenciais seriam vitoriosos, quem sabe na rua as pessoas andariam felizes, todos teriam trabalho e não haveria filas intermináveis na segurança social. Que temas abordariam os debates económicos sem aquele famoso gráfico dos 5 milhões de desempregados? Que discutiriam os políticos se não houvesse recessão, subida do IVA e medidas impostas pela troika? Ultimamente tenho pensado que não tenho a mais pequena ideia de como seria a vida sem "a crise".

You Might Also Like

5 comentarios

Subscribe