Manhãs...

Num dia de preguiça matinal:
Dormi uma hora mais que o habitual e tomei um pequeno-almoço decente, vi vários capítulos atrasados das minhas series preferidas, li com profundidade a imprensa nacional e internacional, tive três ideias para reportagens, adicionei sete novos blogs ao meu reader. Vi o telejornal em espanhol e depois em português. Estiquei o cabelo, pintei as unhas e li um capítulo mais do meu livro de cabeceira. Fiz uma sandes para o lanche do trabalho e tirei a roupa do estendal. Agora vou só ali ao supermercado e já volto!
Preciso de mais manhãs assim e…

Tarta de chocolate con galletas

Eu, que não cozinho há dois anos. Eu, que não gosto de chocolate. Eu, que nem sei separar a gema da clara. Eu este fim de semana pus-me a fazer um bolo. E não um bolo qualquer. Uma “tarta de chocolate con galletas de toda la vida”. Era o aniversário de um amigo e ele pediu-me isso de presente. Sim, a mim.
E assim começou a saga-da-tarta-de-galletas. Duas brasileiras a fazer um bolo tradicional espanhol. Primeiro derreti mal o chocolate (sim, eu também achava que isso era impossível), depois derreti demais a manteiga, depois achámos que podíamos fazer clara em neve no liquidificador (“afinal é só bater”), depois eu não sabia calcular 300g de açúcar. E então a minha amiga afastou-me dos fogões e disse: “tu te encarregas de ler a receita e eu faço o resto, ok?”. Eu e o meu orgulho ficamos ali quietinhos num canto da cozinha, até que: “Marina!!! Mas nem ler a receita sabes?”. Pois. Eu sabia lá que era preciso ler sempre o próximo passo, antes de fazer o anterior. O resultado foram três horas na cozinha, uma ligação para o Brasil (para tirar dúvidas de culinária), muitos gritos e gargalhadas. A minha amiga prometeu nunca mais cozinhar comigo (check), nem me deixar fazer nenhum tipo de tarefa na cozinha (check). A casa ficou toda suja de chocolate e… a tarta de chocolate con galletas … bem, que foi feita com muito amor e carinho.

Apelar ao sentimento.

Tinha um almoço marcado, uma tosse insuportável, uma dor de cabeça que não me deixava pensar direito. Tinha uma transferência bancária que fazer, as unhas para pintar e uma dispensa que gritava por supermercado. Já estava atrasada, claro que estava atrasada. Mas ainda tinha que por gasolina.
Paro num posto estratégico: “completo, por favor”. E ponho a mão na bolsa, procuro a carteira. Procuro melhor. Despejo a bolsa e cadê a carteira?
“Senhor, senhor! Pare já tudo! Não trouxe a carteira!”. Passado o momento de stress e parada a operação, o senhor diz: “Você deve 40 euros”.
E então vou falar com a sua superior. Explico-lhe que me esqueci da carteira em casa, que não me apercebi até já ter o tanque quase cheio. Que foi sem querer, “que vergonha”. “Não pode tirar o carro daqui até pagar os 40 euros”. Não, mas tenho de ir a casa buscar o dinheiro. Não me vai fazer apanhar um táxi, pois não? Confie em mim, a serio que eu volto para lhe pagar o que lhe devo. Ela explica-me que se eu não lhe pago, tiram esses 40 euros do salário dela, e eu continuo a garantir-lhe que isso não vai acontecer. E então ela diz. “Mas ligue a alguém para que lhe traga o dinheiro, Você não tem ninguém?”
Autch.
O golpe baixo doeu muito. Mas peguei nele e fiz a jogada inversa. Não, não tenho ninguém, estou sozinha nesta cidade estranha. Não tenho família, as outras pessoas que conheço estão a trabalhar e agora você quer estragar ainda mais a minha vida. Diga-me lá, pareço-lhe uma impostora?
Quando voltei para pagar, disse-lhe: “Desculpe lá a confusão” e ela respondeu: “Desculpe se fui demasiado dura consigo”.
Apelar ao sentimento funciona sempre.

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