A maquina viajante

16.9.10

Quando aquilo aconteceu senti que todos os sinais vitais do meu corpo se congelavam. Fui causa e presenca da perda da unica prova material daquilo que as nossas palavras ja cansaram de contar. Morria, naquele momento, uma parte da minha historia.
- Como e pessima a tua maquina fotografica!
- Eu sei, mas eu amo-a. Comprei-a no interrail...
Entao ai comecava a lenga-lenga de uma batalha passada. As descripcoes daquela tarde de cerveja, dos piratas, dos brindes, dos amigos chilenos e da desaparicao. Da busca tosca e falida, do comboio, da senhora que me limpou as lagrimas. Da depressao pos-perda e da decisao:
- Ola, bom dia, queria comprar uma maquina fotografica.
- Certo, e qual seria?
- A mais barata.
Esse era o dia 2 daquela que viria a ser a viagem da minha vida. Uma maquina fotografica roubada nao estragaria este momento. Foi assim que 600 toscos fotogramas de qualidade media-baixa registaram esta aventura. A partir desse mochilao, o nosso grupo passou de quatro a dois. Mas nos resistemos. Eu e ela. Sobrivivemos entre flashes, fotos queimadas, cliques e destinos surpresa. Ate ao dia. O dia em que uma queda fatidica deu fim a visao da minha companheira de viagem. Ela agora ve tudo assim, escuro, embaciado, difuso, espelho daquilo que o nosso grupo indestrutivel passou agora a ser.
Dois anos depois, a minha maquina viajante morreu numa manha de sabado solarenga durante um mochilao pelo Canada.
Uma morte digna. Que deixara saudade.

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