documental

I ante aquel silencio mudo

Foi o nosso filho durante tanto tempo. Seis meses. Talvez mais. Primeiro era só uma idea "o que podíamos fazer era....", "tínhamos que propor....", "sería fixe se...". Conversa de almoço e jantar nesta casa arrumada tão desarrumada.
Um verbo no condicional que se materializou em reuniões e reuniões. Até que houve um dia que nos disseram "sim". Saltámos de felicidade e ao mesmo pensámos: "ui, ui, ui, isto vai dar tanto trabalho". E deu.
Mas era um trabalho nosso. Sem chefes. Sem caras feias. Podíamos não fazer tudo o que criticamos no nosso dia a dia. Não queríamos ser como eles e não fomos.
"¿Hey, queres tomar uma caña esta noite?", "Uf, nao posso, tenho que trabalhar en el docu". E lá fora fazia sol e nós em casa, a trabalhar e trabalhar.
Seis meses. Seis meses e o filho nasceu. Fomos comemorar, brindámos e contámos aos amigos. Mas foi um nascimento discreto. "A estreia será lá para Janeiro", dizíamos.
E lá para janeiro chegou. "Então quando é a projecção?". "É lá para o fim do mês", respondíamos. E lá para o fim do mês, também chegou.
Lá para o fim do mês é amanha e estou em plena campanha de promoção.  Passei de entrevistadora a entrevistada e não sei como reagir. Respondo pensando como faria eu a entrevista. Digo frases consciente de que seriam bons títulos. Proponho formatos de reportagem, ideias para fotografias... "Entrevistar jornalistas é um prazer", dizem-me. Mas eu estou mais cómoda do outro lado.




"I ante aquel silencio mudo", nós resolvemos falar.
desenfoque

Enquanto chove lá fora...

... e já vão 8 días seguidos de temporal, nós aproveitamos a vida indoors.





Mais fotos d'ele, aqui.
amor

Para sempre

Vocês que estão casados e têm filhos. Vocês que disseram "sim quero". Vocês que compraram uma casa. Vocês que puseram um anel no dedo. Vocês que choraram quando viram o teste de gravidez. Vocês que celebraram o primeiro, o segundo e o terceiro aniversario. 
Vocês, se me estão a ler, ajudem-me.
Eu não sei conjugar o verbo Para Sempre.
Eu para sempre.
Tu para sempre.
Vocês para sempre.
Nós para sempre.
Não sei. Nunca aprendi, nunca precisei e essa ideia me dá calafrios. Para Sempre? Sem possibilidade de dizer, "vá, já estou farta, paremos com isto", "não está a funcionar é melhor que cada um siga a sua vida", "já não gosto dele", "acabou-se o amor". Essa falta de liberdade assusta-me. Um compromisso eterno? Porque é que tenho que decidir já? Não posso experimentar mais? Não posso trocar se não gostar? As minhas mãos suam e tenho tremeliques nos olhos. 
Mas, de repente, há três dias, sem nenhum aviso prévio perguntaram-me "Para Sempre?". E eu fiquei nervosa, muito nervosa. Tirei o casaco, entraram-me os calores, fiquei toda vermelha. Eu? Para Sempre? Sim, ¡Claro que sim! (mas não sei fazer isso... "não te preocupes, nada vai mudar"). 
E desde então tento gerir essa noticia.
Eu. Serei. Madrinha. M-a-d-r-i-n-h-a. Para sempre na vida desse feijãozinho que vi crescer e que até já me fez chorar. Esse feijãozinho que passou de "baby" a "baby Girl" e agora já tem nome composto e apelido. Nuria Maria Conde Rodrigues. Tu e eu. Para Sempre. 
amar

O amor romántico

Conheço muita gente que deixou tudo por amor. Que apostou tudo no amor. Que o viu um dia a passear na rua e disse “é ele” e não descansou até conseguir. Que sempre souberam. Que nunca duvidaram. Que sentiram a flecha. Que foram (ou dizem ser) felizes para sempre. 
E é aí onde eu entro.
Eu não acredito nesse amor. Nesse amor romántico-flechazo-cupido-primeiravista-onlyone.
Chamem-me qualquer coisa, insultem-me: Insensível, amarga, coração de pedra, you name it. Já estou habituada.
Há uma vida que falo deste tema. E já ouvi de tudo: desde “um dia você vai sentir”,  a “como podes dizer isso com ele ao teu lado”, às profundas discussões da esplanada amarela ou propostas indecentes em noites de cerveja e chupitos.

Mas há uns días saquei, outra vez, o tema e ele disse-me: “Tranquila, tu es normal. Os outros é que são uns mentirosos”. E o meu coração fez click.

Diario sem açúcar #2

Gomas
Bolachas
Bolo
Chocolate
Iogurte de baunilha
Crepe con Nutella
Morangos con leite condensado
Mouse de limão
Doce de leite.
Tenho fome.
E não, não serve comer uma tosta mista.
directo

3, 2, 1…

Decides o que vais dizer. Perguntas a opinião de um e de outro. Até fazes umas chamadas. Anotas os pontos mais importantes. Ensaias. ¿O que é que achas se digo isto? Todos acham bem, está ótimo. Tudo vai dar certo. 
E então chega o momento. 3, 2, 1 e é a realidade. Agora qualquer passo em falso, qualquer palavra mal pronunciada, qualquer sorriso ou não-sorriso pode ser mal interpretado. Não importa as vezes que tenhas ensaiado, o que querías ter dito. O que fizeres ou disseres terá as suas consequências. Tudo está nas tuas mãos. 
3, 2, 1, dentro. Dentro significa que já não há volta atrás. Que aquela frase perfeitinha e articulada que tinhas pensado dizer, vai sair esquisita e balbuciante, mas tens de “tirar para adelante”. Dentro significa que tens de olhar para a luz vermelha e confiar no teu subconsciente, que ele forme bem as palavras e as frases, que não saia do guião e que não faça nenhum comentario que depois será viral. Olhar para a luz vermelha e confiar. Não há “corta”, não há quero repetir, não há podia ter feito melhor. 
Cada noite sinto que o meu trabalho é uma metáfora da vida. 
domingo

Quando sai o sol #2




Este foi o resultado daquela tarde de sol de domingo. Eu dediquei-me a tirar fotos..








(https://www.flickr.com/photos/37952891@N02/)


E ele registrou o momento en video. 


Tarde de domingo from Millán Castro on Vimeo.

Hoje já chegou a ciclogenesis explosiva. Eu bem disse que valia a pena aproveitar o sol.
frio

Quando sai o sol


Neste país onde eu moro (e que ninguém ache que a Galiza e algo menos que um país), faz mau tempo. Pronto. Temos de assumir a realidade. No inverno passado choveu durante 43 dias seguidos. E no verão fui à praia 3 vezes (e eu moro em frente). Portanto isto é inevitável. Já vivo aqui há 6 anos (!!!) e cada vez mais acontece-me isto:

Planos para o domingo: pequeno almoço com sumo de laranja, ir ao ginásio, almocinho gostoso, escrever 2 artigos atrasados para o jornal, mandar alguns emails, ver True Detective e preparar um documento para uma apresentação desta semana. 
O que aconteceu na realidade: abri um olho, pareceu que estava sol, não acreditei e continuei a dormir. Ele levanta-se abre a janela. Voltei a abrir o olho: ¿Hace sol?. “Síiiiii!”. Então levanta da cama já em manga curta, bicicleta, ginásio, ler o jornal na esplanada, voltar, pôr música, abrir as janelas, sair outra vez, levar a cámara, comentar “quanta gente na rua!” (tu incluida), tirar dezenas de fotos, aproveitar o contraluz, ficar até ao pôr do sol, voltar de noite e aperceber-se que não fizemos nada do que tínhamos pensado para este domingo. 

Mas viver na Galiza é isto: quando sai o sal, deixamos tudo e vamos passar o dia com ele. Porque ninguém sabe quando ele voltará a visitar-nos.
açucar

Diario sem açúcar #1

Há 3 dias e meio que não como açúcar. Três-dias-e-meio. Ok. Para vocês pareceu “una tontería”. Mas não é. Tres dias e meio sem que nenhuma gota de açúcar refinado entre no meu organismo é uma eternidade. Acreditem. 
Neste tempo já recusei bolo rei, churros, iogurte (“Mas é 0%”, disseram-me.), Coca-cola (açúcar com gas) e um gelado (“Mas é de limão”, insistiram). Sou praticamente uma heroína.
É um desafio anual que faço comigo mesma há pelo menos 10 anos. Primeiro repenso todos os meus vícios (não tenho tantos), escolho um e tiro-o da minha vida. Masoquismo, dirão alguns. Disciplina, digo eu. 
Faço-o porque acredito e gosto da sensação de auto-controlo. Uma vida sem dependencias. O famoso: “eu deixo-o quando quiser” levado à practica. Ja fiz varios sacrificios diferentes: ja fiquei sem comer pão, já usei menos o computador, já tirei só as gomas… Mas para mim o mais difícil é o açúcar. Não porque coma muito, mas porque como poco e sempre. É parte da minha rotina.
Hoje, por exemplo, cheguei a casa e queria beber chá com bolachas. Aqueci a agua, escolhi o chá e pensei…. “E agora o que é que eu como?” Não há nada salgado que combine com chá… Abri o frigorifico e fiquei um tempo a olhar. Nada. Não havia nada que desse certo. Escolhi um frasco “y tiré para adelante”. E assim foi como hoje, pela primeira vez na vida, bebi chá com azeitonas. 

(e ainda só passaram três dias e meio). 
bolorei

La Doble Navidad

Eu chamo-lhe Navidad esquizofrénica. Porque é um Natal que não sabe bem se é Natal ou se é Reis. Que depende. Que mais ou menos. 
- E tu o que celebras? - é a pergunta da praxe em território espanhol nestas datas.
Uma questão que não é tão simples como possa parecer: podes celebrar o Papa Noel ou os Reyes. Mas também podes preferir a Nochebuena, que, ojo, não é o mesmo que a Nochevieja. Podes dar só um “detallito” em Navidad e depois um presente grande em Reis. Mas também existe a modalidade de: “O Pai Natal é uma invenção consumista americana, ¡Morte aos capitalistas!”. E então em Nochebuena só há um jantar em família, sem direito a abraços de Feliz Natal (¡esse feriado católico sem sentido!). E eu passo a noite a olhar o relógio e digo: “Já é meia noite!! Feliz Natal!!” E ficam todos a olhar para mim com cara de: “é muito estranha esta rapariga”. 
¡Qual Feliz Natal qual que! Aqui o que celebramos é os Reis só que damos o presente no Natal para que as crianças possam brincar durante as férias. Claro que as crianças também são meio esquizofrénicas porque não sabem a quem escrever a carta. É que há diferenças: a do Pai Natal colocas na bota e no dia 24 à noite tens de deixar-lhe leite e bolachas. Mas os reis demoram um pouco mais a chegar e vêm com um camelo, então há que deixar-lhes agua, porque esses camelos vêm do deserto e ali há seca. 
A nochebuena celebra-se depois do jantar, mas os Reyes são de manhã. Porque na noite antes todo o espanhol que se preste sai à rua para ver a “cabalgata”. “Qué vienen los reyes, qué vienen los reyes¡”.  Crianças histéricas a gritar e um desfile em cada cidade como os de carnaval. Porque, claro, só há três reis magos, mas chegam todos ao mesmo tempo a todas as cidades do país. Estamos a princípios de Janeiro, 5 graus lá fora, e crianças munidas de gorros, luvas, cachecóis e casacos polares a gritar. A gritar e a levar com caramelos na cabeça. Porque é isso que os reis fazem quando chegam à cidade. Atiram rebuçados para a cabeça dos meninos. Então esse é o dia oficial dos dentes saudáveis. As crianças comem rebuçados e os adultos roscón de reyes. O bolo rei. Filas quilométricas para comprar o melhor da cidade, porque a receita é difícil. Toda a televisão ou radio que se preste está há 5 dias a dar receitas, truques e a insistir que não é complicado de fazer. Mas é. Dá trabalho, incluí anís, frutas caramelizadas e “manteca de vaca”. Não, é melhor comprar. E então os jornalistas vão fazer reportagens às filas das pastelarias. Um clássico. E no bolo rei há um bonequinho de chumbo, que, va, pelo menos tem alguma utilidade. Dá para brincar. Mas aqui o tão aclamado roscón tem uma “haba”. Nada mais, nada menos que uma fava. ¡Que emoção, me tocó a fava!”. E aos doces unimos os segundos presentes. Ou detallitos. Depende da família. Mas na verdade, toda a gente está é a espera do dia 7. Porque no dia 7 empiezan las rebajas.

Bem-vindos

Já não sou aquela menina de 2008. Aquela que confundia “tela” com “quadro”, “hasta luego” con “hasta ahora” ou “espantoso” con “espetacular”. Já não sou a de 2009. Tão crítica com a Espanha e tão apaixonada pelo jornalismo. Também estou longe da de 2010 que decidiu por instinto, sabia que errava e errou. 
Ou a de 2011, tão decepcionada com a especie humana. Nem de 2012 que acabou desistindo. 
A de 2013 vocês não conheceram, mas eu posso descrever a de 2014.


Ela fala para um portunhol que é uma maravilha. Adora viajar. Está mais adulta, menos sonhadora, talvez. Se conecta de segunda a quinta e é feliz de fim de semana. Busca um espaço para desahogarse. Mas, AVISO. Este blog não será nem em português (com o sem acordo ortográfico), nem em español. Qualquer dúvida, é só perguntar. Bem-vindos. 

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