El cambio de Zetapê

Lembro-me de quando o Zapatero ainda não era çapatero (com a linguinha no meio dos dentes), quando não sabia o nome do Pepe e ainda tinha de pensar se Fernández levava acento.
Foi há tanto tempo.
Agora já fazem parte da minha vida. Do meu quotidiano. Sei o seu passado, as suas amantes e as fofocas mais sórdidas. Comento a roupa, o tom e as olheiras. “Acho que ele está depressivo”, e discutimos isso horas a fio. Insulto-os a todos. Menos a Salgado.
Havia a De la Vega que batia todos os records das redacções. Uma mulher não se pode fazer chamar por Maria Teresa Ferndández de la Vega e o seu cargo ser Vicepresidenta primera del gobierno. Demasiados caracteres! O que fazemos com os printers? E depois havia a Aido e a Corredor, tão sonsas, tão sem sal. A Leire Pajin, a sua adolescência política e o queixo duplo. Como se pode ser tão feio? A Espinosa, o Corbacho e o Moratinos.
Ate um dia, sem aviso prévio, acordo e descubro que tenho que lhes dizer adeus. Que tenho que abrir o meu quotidiano a um senhor que se chama Jáuregui e nem sei pronunciar bem o seu nome. Acho que é amigo do Valeriano, !que dupla!. E então passo o dia com tremeliques, a ler, estudar e aprender tudo sobre estas caras novas. A discutir o futuro do país e as consequências deste “cambio”. Porque esta seana acordei e tinha mudado o governo. Senti que estava a viver a história. Mas eu sou uma exagerada.

Ouvir

Podia contar-vos das 50 horas de trabalho intenso. Das pressões, dos tremeliques, do cérebro cansado de pensar. Podia contar-vos dos fins de semana de festas, do cinema e das cervejas nocturnas. Podia falar-vos dos novos amigos e fofocas dos velhos. Dos meus pais que se foram. Da viagem que tinham planeada para o meu aniversario. De como um Papa pode estragar os planos de uma menina prestes a cumprir 24. Podia contar-vos que estou prestes a fazer 24 anos. Podia falar do amor e do não-amor. Das negações nas que gostamos de viver. Podia falar-vos de tantas coisas que têm acontecido nestes últimos dias. Mas ultimamente tenho gostado mais de ouvir. Paciência.

A despedida

Achei que fosse ser mais difícil, que a realidade fosse doer um pouco mais. Mas cheguei e comigo veio aquela agradável rotina de dias de correria e noites de trabalho intenso. Cheguei e receberam-me com um abraço e com a determinação de fazer daquele fim-de-semana um momento feliz. E das lágrimas vieram gargalhadas e noites de histórias e fofocas alheias. !Quantas coisas acontecem em três semanas! Cheguei e senti-me em casa. Depois veio a alegria de voltar às notícias, às análises informativas, às reuniões e mais reuniões. E quase sem notar, chegava outro fim-de-semana. Noitadas com direito a pequeno-almoço e confidencias debaixo da manta do sofá. E agora penso que a despedida foi já há muitos dias. Que já desfiz as caixas, arrumei a mudança, enviei as fotos e conversei sobre o tema. Já passou a pior parte e ainda não tive tempo de ficar triste.

De volta

De volta ao trabalho, àquela vida de segunda a sexta. Às overdoses de gomas, às fofocas molhadas em café. De volta à minha casa partilhada, à vida sem satisfações. Aos dormir-tarde-e-tarde-acordar. Às idas matinais ao ginásio e noites de series americanas. De volta àquela cidade que há dois anos me acolheu e que agora chamo de minha. De volta à televisão em directo, aos telefonemas, emails e cervejas pos-laborais. De volta aos almoços de domingo, às peregrinações de bar em bar, às manhãs de contabilizar danos. É que acabaram as ferias e voltei à minha vida. Mas continuo a dizer que não percebo o que é isso da “síndrome postvacacional”. Eu gosto de ir, a serio, amo ir, mas voltar também tem o seu encanto.

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