Gastar palavras

Quando eu era pequena, acreditava que o nosso corpo tinha algumas limitações. Uma delas era o numero de palavras que podíamos pronunciar durante a nossa vida. Não me perguntem onde fui buscar essa teoria, mas a verdade é que eu acreditava profundamente nela e, como uma boa menina-que-bate-nos-rapazes-da-escola rapidamente fiz com que as minhas amigas também começassem a acreditar nisso.
Não sei dizer quantos dias passámos com os dentes a morder os lábios para poupar palavras, quantas horas gastámos a conversar por gestos, quantos bilhetinhos escrevemos na hora do intervalo... tudo porque achávamos que um dia, quando fossemos maiores, iríamos precisar mais das palavras do que naquele momento.
Agora olho para trás e penso que gostaria de voltar a acreditar que as palavras são finitas. Queria que por um tempo os vocábulos desaparecessem da terra e que as coisas fossem feitas... E não apenas ditas (ou insinuadas).

Ele ressuscitou

É novinho em folha mas naquela noite, ai aquela desastrosa noite, achou que era boa ideia ir dar umas braçadinhas dentro da retrete. E então saltou dos bolsos das calças e plof.
O pior não foi ter enfiar a mão no meio do meu xixi para resgata-lo. O problema mesmo foi não poder dar-lhe um banhinho de desintoxicação. Mas pronto, uma secadinha aqui, outra ali e então começaram as rezas bravas para que a coisa não pifasse. "Va lá amiguinho, não me abandones, pelo menos não nesta noite". Mas claro, Puff, criaram-se bolhas no ecrã, o dito cujo começou a fazer sons estranhos e tremeliques duvidosos. Até que depois de uma noite de luto, pela manhã chegou a iluminação.
ARROZ.
Peguei num potinho, tirei-lhe a bateria, enchi-o de arroz e deixei aquela pequena criatura ali, mergulhada naquele mar de grãos brancos por um dia.
Então hoje acordei, fiz umas três ou quatro mezinhas, rezei para alguns santos fortes e dei-lhe ao botão vermelho e, plim!, ali estava ele, todo luminoso.
Então gritei bem alto, para toda a Coruña ouvir: "Ele ressuscitou!, Aleluia, aleluia!".
Agora estou a pensar em inscrever o arroz como candidato à beatificação:
"Senhor Papa, exijo que o arroz tenha nome de santo. Ele ressuscitou o meu telemóvel. Há algo mais bonito e digno que isso?"

O idioma inútil

Ultimamente tenho sustentado repetidas vezes uma teoria que gostava de partilhar com vocês. Ora, aqui vai: “Porque é que o espanhol é uma língua tão inútil?”
Vejam bem. Esta semana que passou estive a preparar uma reportagem sobre o vento. Sim, um tema extremamente apaixonante. Estava a comentar o meu “pré guião” com uma amiga, quando lhe disse:
- Y después le voy a preguntar por qué vienta tanto en Galicia...
Ela olha para mim, olha em volta, torce os olhos e diz:
- El verbo “ventar” existe?
Adoro quando me perguntam essas coisas. A mim, a super especialista no idioma hispano. Então concluiu-se que não, que em Espanha não “venta”, “faz vento”. E ai vem a minha teoria. Quero perceber, a serio, se souberem alguma explicação por favor ajudem-me, porque é que em Espanha, este país costeiro e de elevadas altitudes não existe um verbo próprio para o “movimento de ar”, mas em compensação existe cerca de 20 palavras para dizer “casaco”.
- Hei, passa-me ai o meu “abrigo” – disse um dia.
- Que “abrigo”?
- Esse que está ai ao teu lado…
- Não vejo nenhum – respondem-me visivelmente confusos…
- O preto!!!
- Ah! Isto não é um “abrigo” é uma “cazadora”…
Abrigo, cazadora, chupa, chaqueta, anorak, chubasquero, plumífero, impermiable, americana, blaser, chaquetón. E estas são apenas algumas das palavras que eu sei para dizer “casaco”… Imagem quantas mais existem perdidas por este país a fora. Agora chegam vocês e dizem:
- Ah, e tal, os esquimós tem 100 palavras para dizer neve.
Certo, isso já sei, mas amigos, a serio. Em Espanha há muito mais vento que frio, ou pelo menos em proporção relativamente iguais. Agora não haver um verbo para “ventar”? Parece-me um insulto à língua.
Mas não é preciso ir tão longe. Em espanhol também não existe o verbo “namorar”, o conceito de “festinhas” (dizem “cociguinhas”!?!) ou o verbo “soluçar” (!!!), mas pronto, não faz mal, porque têm 20 palavras para dizer “casaco”! Va, digam lá da vossa justiça: Este é ou não o idioma mais inútil que já conheceram?

Poco a poco

Desde que comecei a trabalhar nesta televisão, vivo sob um novo dilema que está, sem dúvida, a transformar-me.
“Poco a poco”, disse quando me deram pela primeira vez uma câmara para as mãos.
“Poco a poco”, disse quando abri o programa de montagem e descobri que não sabia fazer um corte.
“Poco a poco”, quando li o meu primeiro Off como quem lê o sermão da missa.
“Poco a poco”, quando tive de fazer a minha primeira aparição e gravámos cerca de 20 tomas falsas.
“Poco a poco”, quando se emitiu um erro de espanhol numa noticia feita por mim.
“Poco a poco”, quando ouvi (e odiei) o meu querido sotaque em plena televisão.
E assim, pouco a pouco, a minha vida foi organizando-se. Até que hoje, de repente, olhei para mim e conclui: “Mudei”.

É Hoje, ou uma forma lamechas de dizer "amor"

Lembro-me da primeira vez que soube do que se tratava. Lembro-me de duvidar. De chegar a casa e dizer “não sei”. Mas havia algo naquela pessoa, naquela maneira de falar, naquele projecto… “Não sei, mas sim”, respondi. E houve guinchos e assobios, “vendidaaaaa”, gritaram-me, insultaram-me, tentaram demover-me. E eu ri-me, pus a casa às costas e embarquei de olhos vendados naquela aventura com nome de vinho.
Por ali havia pessoas estranhas, calões desconhecidos e um ritmo nunca antes visto. Viajávamos, gritávamos e fazíamos silencio, ai o silencio. “Gravando!”, diziam e ninguém ligava. Os meus olhos eram os únicos que brilhavam sempre que ouvia aquela palavrinha tão desgastada: “Gravando!”, diziam, e eu pensava, “Isto é real”. Pouco a pouco fui apaixonando-me por tudo aquilo, por cada movimento, cada mudança de guião, cada histeria de cada actor. Eu sei que isto tudo parece um grande cliché, na verdade, acho que esta história de amor foi realmente uma gigantesca lamechice, mas de todas as formas, ou quem sabe, por isso mesmo, vale a pena ser contada.
Porque o que aconteceu depois foi um drama daqueles bem grandes. Do nosso amor gerou-se um filho e eu (desta vez sim, traidora!, traidora!), abandonei o meu bebé dias antes do seu nascimento. Peguei em mim e na minha casa móvel e partimos sem olhar para trás em busca de novas aventuras. Perdi todos os desejos, os enjoos de última hora, as queixas de como a barriga pesava, os nervos do dia do parto. Perdi o primeiro pontapé. Pedi-os mas vivi tudo à distância, como aquele avó expatriado. Enviaram-me fotos, vídeos, mensagens. E eu vibrei, gritei e chorei de alegria a cada nova meta atingida. “Mas já não é o teu bebé” diziam-me os que não entendem nada da vida. E eu olhava com desprezo e só porque esta é uma história de amor lamechas, dava-me ao luxo de responder: “Mesmo que não veja o seu parto, será para sempre o meu filho”.
Tudo isto, todas estas letras melancólicas, para dizer-vos que hoje é o dia. O DIA. Eu sei que já não sou sua mãe, mas hoje, às 22.15 sofrerei como se saísse do meu útero, e durante esta noite, até ao anuncio da sentencia final, não conseguirei dormir.
É hoje, meu amigos, sete meses depois chegou o dia: é hoje:

Martes 13

Hoje sinto-me ultrajada, traída, absolutamente revoltada. Imaginem que um dia vocês acordam e descobrem que andaram a mentir-vos a vida toda. Que, sei lá, são adoptados (Mãe, Pai, esta é a vossa deixa), que afinal o gato que dá azar é o branco e não o preto, que os 7 anos de mau sexo vêm de brindar e beber e não de brindar sem beber. Ou... quem sabe... que o dia maldito, o mundialmente famoso dia maldito, é "Martes 13" e não "sexta-feira 13". Acordas a achar que é um dia normal e, pimbas, na rádio, no jornal, nas conversas de café. "Hoje é o dia do azar".
Tentas revoltar-te, explicar que estão errados, que isso é quando os dias treze são à sexta-feira. Contas-lhes do filme, dos livros, das festas da escola. Eles riem-se de ti e das tuas frustradas tentativas de internacionalizar este país.
Mas tu controlas-te e dizes que não, que não vais sucumbir a esta ignorância social. E então lá vais tu, toda pimpona, gravar a tua reportagem... Era às onze, mas começou as 12.30. Era sobre um taxi de cães. Mas, infelizmente, não havia cães.
"Não faz mal, marina, tudo vai correr bem". E então chegamos ao carro e... Tcham, tcham. Janela do carro partida, vidros por todos os lados, seguro, oficina, não dá tempo para almoçar.
No fim do dia, de volta à redacção, lá estas tu, toda graciosa, a contar a tua aventura. Os teus ouvintes riem-se. Riem-se demasiado para uma historia tão banal. Não percebes, perguntas. E a resposta, claro que não podia ter sido outra:
"Parece que os que estavam enganados eram vocês. Afinal o dia do azar é mesmo a terça-feira 13".
Têm ai algum espanhol à mão para eu estrangular?

Um normal, se faz favor!

Não gosto de homens que me “cedem o passo”, abrem a porta e pagam a conta. Também não gosto de homens que nunca o fazem. Gosto de nerds, de frikis com marcas de acne e, quem sabe, um ou outro episodio de bullying escolar. Que adorável! Gosto de míopes. E de óculos com armação. Ténis, calças largas e t-shirt. Camisa, melhor não.
Gosto do Obama. E dos médicos em geral. Gosto de homens com poder e detesto mandões. Abaixo os surfistas, cabelinho loiro e olhos azuis. Gosto de homem com cara de homem.
Gosto de altos e, se puder ser, desengonçado. Acho tosco adorável. Gosto de homens que gostam de mim. Ah, e das minhas orelhas. Sou chegadinha nuns caracóis despenteados e tenho queda para calos de guitarra. Mas nada que anos de pratica e uma boa cabeleireira não resolvam.
Homem que é homem gosta de batatas fritas com Ketchup e hambúrgueres do McDonalds, não me venham cá com saladinhas. Mas melhor que não goste de gomas, ou teremos problemas. Gosto de gordinhos, pronto admito, e de magrinhos também. O meio-termo aborrece-me. Detesto gente morna, ai como detesto.
Gosto de cicatriz, nariz torto e pés de Hobbit. Adoro pés de Hobbit! Não me tentem impingir os dentes tortos que isso enerva-me. Ah, quase me esquecia, se for possível, queria também uma borbulhinha ou outra, pode ser? Dessas boas de espremer o pus.
Tudo isto porque as minhas amigas dizem que tenho mau gosto. Não percebo.
Eu só gosto de homens normais. Mais nada.

Três países, muito stress

Agora por causa da polémica das bandeiras de España em Valença a imprensa galega achou que era o momento ideal para comparar a economia portuguesa/galega/espanhola e concluir, como não poderia deixar de ser, que Portugal é horrivel enquanto que a Espanha (ah, a Espanha e o seu 20% de desemprego) é um grande país.
Como já devem ter percebido este é um tema que me é muito caro e para o qual tenho especial sensibilidade. Irrita-me, enerva-me profundamente, quando os espanhóis começam com aquele discurso de "coitadinhos dos portugueses, são tão pobrezinhos". É nesse momento que lanço as minhas garras e salto em protecção do meu país. Mas depois, claro, lá vêm os portugueses com o típico "estás a viver em Espanha? Odeio espanhóis". E então eu volto a irritar-me com este complexo de inferioridade do filho mais novo. "Pois fica sabendo que é um povo muito mais alegre, optimista, trabalhador e empreendedor que os portugueses e a sua ridícula mente fechada". E, pronto, lá estou eu irritada outra vez.
Mas depois dizem-me: "Ah, nasceste no Brasil? Uhhhh, carnaval, caipirinha e mulheres nuas". Dentes a ranger e vasta dissertação sobre como "o Brasil será a próxima potencia mundial e devias estar mais atento ao que se passa à tua volta ao invés de ficar ai fechado nesse teu complexo de superioridade do velho continente". E assim vou ganhando inimigos.
Até que chegam os brasileiros (ai, os brasileiros) que me dizem que os portugueses são burros: "Burro é quem acha que generalizando será alguém na vida". E depois começam a queixar-se dos espanhóis. Que são muito formais, muito presos, muito parados, muito não sei quê: "E já pensaste que se calhar o problema está em vocês, que se calhar vocês é que são demasiado liberais, conheci-te-hoje-já-somos-melhores-amigos e não-há-mal-nenhum-em-ir-para-a-cama-com-cinco-na-mesma-noite?"
Basicamente, este é o problema de "ter" três países: passas a vida stressada a tentar defende-los a todos.
Até que um dia dizem-te:
- Que lata, ficas furiosa quando alguém diz mal dos teus países, mas tu passas a vida a critica-los.
- É simples, caro amigo. É que eu tenho autoridade para fazê-lo, tu não.

Spanglish

Sou uma pessoa feliz.
Estou neste momento a preparar uma reportagem chamada "Como falamos ingles", que é como quem diz, quão mal falam ingles os espanhois. Delicioso, delicioso! Deve ter sido o dia mais divertido de trabalho que já tive na minha vida. E... só porque gosto muito dos meus leitores, aqui fica uma das perolazinhas que incluirei na minha reportagem:

Franco falando inglês:


Viva Espiña!

O sotaque

Desde que me mudei para Espanha que incorporei uma nova reacção inata à minha fisiologia. Sempre que começo a falar com um desconhecido e ele põe uma cara esquisita eu automaticamente digo:
- …. De Portugal…
Normalmente a pessoa fica meio confusa e diz algo como: “Desculpe?”, ao que eu respondo:
- Essa sua cara… Não queria saber de onde era o meu sotaque? Sou de Portugal.
Isso facilita muito as coisas, e, acreditem, já quebrou o gelo em diversas situações constrangedoras.
Mas o melhor de voltar à Galiza é que a seguir a esta cara vem, inevitavelmente, a frase:
- Ah! Me encanta Portugal!
E eu derreto. Já passaram dois anos e eu continuo a derreter. Respondo sempre:
- Por supuesto que te encanta! Es el mejor pais del mundo!
Cof.
Cof.
É tão bom ser estrangeiro.

Touca, chinelos e meias

Um amigo deu-me de presente "um dia num spa" e hoje, depois de passar oito horas falando/escrevendo/montando noticias sobre os despedimentos da Citroen, pareceu-me o dia ideal para desfruta-lo.
Então muni-me de fato de banho, touca e chinelos e lá fui eu para o famoso centro de relaxamento. Quando cheguei, o rapaz da recepção disse-me que o balneário estava na primeira porta à direita e lá fui eu, toda obediente.
Pousei as minhas coisas e toca a tirar os sapatos (deixando as meias para não apanhar frieiras), calçar os chinelos, pôr a touca. E então tira a parte de cima, a de baixo e.,.. no momento em que me preparava para vestir o fato de banho... Ali estava ele: um homem estupefacto a olhar para mim. Eu, estupida, não tive reacção. Fiquei petrificada a olhar para ele enquanto ele contemplava essa bela imagem da Marina nua de chinelos, meias e touca. Não gritei, não me tapei, não fiz nada. Fiquei ali quase um minuto, dois, três (?), a rezar para que ele passasse. O senhor, envergonhado, seguiu o seu caminho e dentro de segundos voltou na companhia do rapaz da recepção: "Menina - diz, o recepcionista- estes vestiários são mistos, você não pode andar nua pelos corredores". Eu, que continuava com as meias vestidas por dentro dos chinelos, já não sabia onde me esconder. Virei-me então para o senhorzinho que ainda se estava a recuperar do choque e apenas consegui dizer-lhe: "Desculpe, é a minha primeira vez, eu não sabia".
O senhor não respondeu. Virou-me as coisas e foi-se embora com cara de ultraje. Agora estou à espera que chegue a minha casa o pedido de indemnização por danos morais. Já estou a guardar dinheiro.

CGA

Jantámos batatas fritas e pizza com Ketchup. Depois disso achei que era hora de voltar a atacar o meu querido saquinho de gomas. Cinco, dez, quinze... e então o estômago gritou e deu nó. Agora queria dormir mas a barriga não deixa. Ela grita por baixo do cobertor: "Gulooooooosa..." enquanto faz barulhos esquisitos. Concluo que isto é mesmo uma doença e que preciso de ajuda médica. Existirá algo como os "Comedores de Gomas Anónimos" (CGA)?

Detox # O fim

Por uma questão de tradição e respeito, o primeiro doce que o meu faminto estômago teve o privilegio de comer foi um pedacinho do ovo de chocolate que me ofereceu a minha mãe. Foi bom, não nego, foi bom. Mas não foi (nunca é) tão orgásmico como se esperaria, nem tão intoxicante como o desejado.
No fim do dia, sentei-me no quarto e pensei, "Marina, tu mereces". Fui ao meu armário e saquei cá para fora o meu super saco gigante onde guardei todas as gomas que acumulei na minha estadia em Madrid. Escolhi as melancias (sem duvida as minhas preferidas), deitei-me na cama e saboreei. Uma, duas, cinco, dez. Na décima primeira deu-me dor de barriga e tive de parar. É por estas e por outras que eu gosto tanto de desintoxicar-me de vez em quando.

Ai fica a prova do crime:
Uma boa Páscoa para todos!

Detox #16

É amanhã.

O Kikito

Não sei se todos se lembram disso, mas quando éramos pequenas (uns doze anos?) havia uma moda bastante irritante na escola. Cada menina desenhava na sua mão uma coisa que se chamava “kapa igual a”. O objectivo era dizeres o número de letras que tinha o nome do menino de quem gostavas.
É ai que entra a melhor parte da história. A Marina, essa maria-rapaz, de sotaque esquisito, orelhas grandes, aparelho nos dentes e que batia nos rapazes, todas as manhãs chegava à escola e desenhava um grande e elaborado “K = 6”. Então toda a gente começava a dizer “Miguel?”, “Duarte?”, “Afonso?”. Não, não, não. Eu acabava sempre por dar a volta ao assunto e voltar para casa orgulhosa do meu segredo.
Chegou então o grande dia da revelação. Preparem-se.
Tcham tcham tcham tcham.
K=6. Kikito.
Kikito, para quem não sabe, é a alcunha do meu querido, adorado, amado e devoto Ricky Martin. Sim, eu era fâ do Ricky Martin. Mas eu não era só uma fã normal e corrente, estilo, “é giro e canta bem”. Eu achava, e bem no fundo do meu coração acreditava, que eu e o Kikito formaríamos uma vida juntos. Durante muitos anos acordei no dia 24 de Dezembro e o meu primeiro pensamento foi “Parabéns Kikito”. (O quê? Vocês não sabiam a data de aniversario do Ricky?). Durante muitos anos suspirei sempre que entrava no quarto e olhava para a minha parede (literalmente forrada com posters do Kikito). Houve até um dia que um poster dele caiu em cima da minha cabeça enquanto eu dormia e eu fui para a escola dizer que “era um sinal”.
Depois fui crescendo e as pessoas ficavam indignadas: “Como assim eras fã do Ricky Martin? É tão gay e canta tão mal.” Mas o que ninguém percebia é que o que eu senti por ele era muito mais profundo e ia muito mais além de um simples rebolar de cintura. Até que chegou o dia do anúncio da “gravidez”. Confesso que pensei, “Ricky? Porquê contratar uma barriga de aluguer? Se tinhas aqui o meu útero, todinho à tua disposição?”. Mas não me zanguei com ele, a serio que não, “outros filhos virão”, disse-lhe por telepatia.
Foi então com assombro e surpresa que esta semana entrei nos mails e tinha quatro mensagens com o assunto “Ricky Martin é gay”. Havia pêsames, mensagens de força e outras de troça. A todos respondo sempre o mesmo:
Caros amigos, não se preocupem, ele está apenas confuso. Chegará o dia em que nos conheçamos e ele diga a frase pela qual esperei toda a minha vida: “Onde andaste todos estes anos Marina?" Teremos filhos e viveremos felizes para sempre.

Detox #15

Ontem fui jantar com uns amigos e eles pediram de sobremesa uma "tabua de degustação de doces". Olhei para aquilo com indiferença. (E havia Cheesecake!). Considero concluído o meu processo de desintoxicação.
P.S - Hoje sonhei a noite toda que comia chocolates... Mas isso não conta, pois não?

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